Igreja Ortodoxa, ou Oriental, como é chamada aqui no Ocidente,
preservou tanto a doutrina como o rico ritual litúrgico elaborado durante os
primeiros tempos do Cristianismo. Seria este um mero capricho, ou um excessivo apego
a um formalismo ritual? Temos aqui exatamente duas posturas, duas visões
diferentes do mundo e da própria Igreja, e portanto, do seu ritual. São
praticamente duas atitudes básicas diante do Sagrado. Da compreensão deste
problema vai depender exatamente a verificação que o ritual ortodoxo é cheio de
sentido e significado, visto que o universo simbólico da Sagrada Liturgia é
preservado em todos os seus detalhes e em todo o seu rico conteúdo espiritual.
Neste sentido, podemos afirmar que o véu tem necessariamente um
sentido e dimensão que ultrapassam o uso cultural ou qualquer distinção
discriminatória para com o sexo feminino.
Por que reduzir o mistério a simples categoria sociológica,
histórica, sexual ou cultural Por que se adotam interpretações racionalistas e
materialistas a uma dimensão que ultrapassa o tempo e o espaço? Ou o Sagrado
está para além do concreto ou não existe? O Sagrado evidentemente se expressa e
manifesta no mundo, mas está além dele! Aqui começa a distinção entre a recusa
do véu, numa interpretação simplista e exterior ou a segunda opção apresentada
pela Ortodoxia: viver o significado do véu dentro do universo do Rito
Litúrgico, cujo sentido está evidentemente para além do uso do objeto
"véu", fazendo deste um mero fim sem sentido.
O véu seria então um símbolo, portanto um sinal através do qual
somos remetidos para um outro significado além dele; é um meio para ir a outra
dimensão; chamemo-lo então: o sagrado. Por outro lado, o véu como elemento
isolado não tem nenhum atributo especial ou mágico em si mesmo. Isto seria um
erro grosseiro. Ele representa muito mais, é uma atitude, uma disposição, uma
escolha.
Neste ponto se abre uma porta por onde podemos contemplar outra
realidade, porque sendo uma atitude, isto significa escolha. Se há escolha, há
liberdade, então é possível compreender. Aqui entram em jogo dois atributos
dados especialmente ao homem: liberdade (de escolher) e inteligência (para
compreender).
Tem importância para a mulher o uso do véu na Igreja durante a
liturgia? A prática ortodoxa afirma que sim.
O jogo litúrgico vai depender da liberdade de ir até ele e além
dele, como da participação por meio da compreensão. Aqui chegamos à questão
principal. Tem importância para a mulher o uso do véu na Igreja durante a
liturgia? A prática ortodoxa afirma que sim - como se dá e porque é importante.
O primeiro ponto é que reconhecendo o véu como símbolo, não se pretende esgotar
todos os seus significados, porque não tem apenas um significado, mas vários,
muitos... Podemos aqui sugerir alguns:
1. Deus criou o Homem e a Mulher, macho e fêmea os criou!
Deus criando o mundo como uma coisa unida, integrada; dentro da
criação, no entanto, há duas polaridades que vão realizar uma Unidade. O homem
complemento da mulher e vice-versa, um precisa do outro. Como pode então um ser
superior ao outro, se cada um precisa do outro? Na criação há outras
dualidades: céu e terra, dia e noite, que correspondem também ao homem e à
mulher numa relação integrada, harmônica. Portanto dentro da criação cósmica, cada
polaridade tem seu lugar próprio, o equilíbrio do próprio Universo depende
disso!...
Se a liturgia é uma celebração cósmica, esta vai conter os
elementos que o próprio Deus estabeleceu e são chamados à Liturgia da maneira
que Deus os criou: Homem e Mulher, cada um na plenitude do seu próprio sexo,
porque cada um à sua maneira reflete a própria Unidade da Criação Esta
distinção deverá ficar bem clara e estabelecida na Liturgia, onde cada um é
chamado a assumir sua posição no mundo como homem ou mulher.
2. Criou o Céu e a Terra
Céu e Terra se complementam, o céu está em cima e a terra
embaixo, o homem "cobre" a mulher; isto não significa superioridade
de um sobre o outro, apenas lugares diferentes. Se a mulher vai representar a
própria terra que é fecundada e coberta pelo céu, na Liturgia a mulher vai
cobrir sua cabeça pois está diante de Deus, não diante dos homens!
3. A Virgem Maria
Na saudação do anjo Gabriel a Maria, para comunicar-lhe que
seria a Mãe de Deus na terra, Deus escolhe uma mulher, claro! E aqui fica
definido qual é a relação da humanidade, e especialmente da mulher, diante de
Deus. O anjo lhe diz: "O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do
Altíssimo te cobrirá com a sua sombra". A mulher, portanto, diante de
Deus, é receptiva e não passiva, posto que ela aceita, a vontade dela disse
sim. "Faça-se em mim conforme sua palavra". O véu vai significar
claramente a aceitação da palavra de Deus.
A mulher é naturalmente mais receptiva que o homem. Tem já o dom
de gerar filhos; isto a torna co-partícipe na criação do mundo. Ela recebe o
filho, isto não é nada passivo, muito pelo contrário. A mulher portanto é
coberta por Deus, é um ser potencialmente mais "espiritual" que o
homem.
4. A Virgem Maria e a Maternidade de Jesus
Uma mulher e não um homem é a pessoa que vai conhecer melhor o
Cristo. Ela já o recebe no sim ao anjo! A partir disto Jesus vai crescendo
dentro dela, é no seu interior que vai se desenvolvendo; ela então tem uma
relação íntima, estreita como ninguém jamais a teve. O Espírito Santo a cobriu
e ela concebeu; tudo se passou dentro dela, no maior mistério. Vemos sua
barriga, sabemos que está grávida, mas não sabemos como é. É um mistério, está
oculto - o mundo moderno quer descobrir tudo, nada escapa a isso, mesmo o
Sagrado tem que ser exposto.
Na Liturgia Ortodoxa, o Santuário é separado dos fiéis e em dois
momentos fecha suas portas aos olhos dos fiéis: na Proskomídia (Preparação das
oferendas) que representa a vida oculta ou anterior de Cristo no mundo, e na
Comunhão do Clero. O véu nas mulheres é a lembrança permanente dentro da Igreja
daquilo que não vemos, que é mistério, está perto mas está encoberto por um
véu.
5. O Véu do Santuário
O Santuário e sua porta representam a entrada (a Porta, o
Cristo) ao Céu, que é coberto por um grande véu. Aqui na terra, portanto, um
véu nos separa - do mistério da vida que está para além da porta que é o
Cristo. Só o Espírito Santo nos faz enxergar para além do véu e do mistério; é
necessária muita fé, a fé que a Virgem Maria nos ensina, a fé da mulher que
espera um filho e vê nele um futuro distante.
A mulher representa a espiritualidade, ou seja, a receptividade
a Deus para entrar com Cristo para além do véu e da porta do Santuário.
Portanto, o véu não é impedimento algum, mas confiança, fé e
esperança de ir além dele para encontrar o Cristo. A mulher com véu vai
representar a fé em algo que não vemos, está simplesmente encoberto!
6. Maria, a própria Igreja
Deus escolhendo Maria para Mãe de Cristo e Maria aceitando, se
torna ela mesma o modelo de todos os cristãos, homens e mulheres. A Igreja é
uma mulher, é o Corpo que recebe o Cristo. Encarnando aqui na terra Cristo se
faz [carne]. Ele é concreto. Em Maria, a Mãe-Igreja, é que recebemos o Cristo,
gerado pelo Espírito Santo. A Igreja santificada e pura vai conhecer o Cristo
intimamente, de dentro. Isto só é possível pelo mistério, não pode ser
explicado, analisado, apenas vivido de dentro, como uma Mulher-Mãe-Maria o
vive.
Se Maria é a Igreja onde Cristo nasce, o Cristo é a cabeça da
Igreja, dirigida espiritualmente por ele; é a mulher com a cabeça coberta,
porque coberta por Cristo, vai nos ensinar a fazer todos a sua santa vontade.
O véu será submissão a
Cristo, e não aos homens [...] Então a mulher aceita amorosamente se entregar a
Cristo, aceitando que ele a cubra.
fonte:
http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/fe_crista_ortodoxa/o_uso_do_veu_na_igreja_ortodoxa.html
fonte:
http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/fe_crista_ortodoxa/o_uso_do_veu_na_igreja_ortodoxa.html
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